O futuro do jornalismo da geração Z depende da liberdade de Julian Assange
A equipe do CODEPINK enviando seu apoio a Assange antes de seu casamento. Crédito: CodePink. |
Apenas treze dias antes do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa de 2022, a própria existência da liberdade de imprensa mundial aproximava-se de seu possível fim. Em 20 de abril, um tribunal do Reino Unido aprovou formalmente a extradição do fundador do WikiLeaks e jornalista australiano, Julian Assange, para os Estados Unidos para ser julgado sob a Lei de Espionagem. Ele está enfrentando uma sentença de até 175 anos. A extradição ainda não está garantida. A decisão final está pendente de aprovação da secretária do interior do Reino Unido, Priti Patel, e a equipe jurídica de Assange está solicitando um recurso. No entanto, a realidade da extradição e todas as implicações para uma imprensa livre que a acompanham são cada vez mais prováveis.
Ao contrário da maioria dos apoiadores de Assange que conheci, sou de uma geração nascida tarde demais para apreciar plenamente a importância do WikiLeaks e suas publicações mais significativas, como o Collateral Murder Video, o Iraq War Logs e o CableGate. Na verdade, conheci Chelsea Manning pela primeira vez através de meus amigos da comunidade LGBTQ+ que admiravam seu ativismo pelos direitos trans. Na época eu estava muito mais focado em questões LGBTQ+ do que em questões de denunciantes. Após esta introdução, aprendi sobre sua importância como a fonte que forneceu provas dos crimes de guerra dos EUA para o WikiLeaks publicar.
A primeira vez que me lembro de realmente entender a importância do WikiLeaks foi quando Assange foi arrastado para fora da Embaixada do Equador em Londres em 2019. Como eu estava apenas vagamente ciente do WikiLeaks e de Assange até aquele momento, foi fácil para mim olhar além das muitas difamações que circulavam sobre ele e, em vez disso, rapidamente entender os perigos para a liberdade de imprensa que seu caso apresentava. À medida que me eduquei sobre o caso Assange, comecei também a educar meus pares.
Na época eu estava na faculdade de jornalismo. O programa de jornalismo da minha escola concentrava-se em ensinar aos alunos sobre produção e marketing de notícias chamativas, mas dava pouca ênfase ao aspecto de serviço público do jornalismo, como desafiar os poderosos, colocar em plataforma os sem voz e informar a comunidade. Fiquei convencido de que era tolice eu e meus colegas estarmos nos preparando para futuras carreiras no jornalismo, enquanto os princípios básicos do jornalismo ético poderiam em breve ser criminalizados.
Descobri que muitos de meus colegas foram receptivos a essa mensagem, mesmo quando a administração da minha escola recusou-se a levar o caso a sério. Como uma das minhas primeiras iniciativas para aumentar o apoio a Assange, enviei vários e-mails para o diretor da escola de comunicação que eu frequentava, perguntando sobre a posição da escola sobre o caso e pedindo que a escola expressasse apoio. Eu também tive ajuda de alguns de meus colegas para enviar e-mails. Nenhum desses e-mails recebeu resposta.
Após o silêncio da administração da minha própria escola, compilei uma lista de centenas de escolas de comunicação e programas de jornalismo nos Estados Unidos e enviei um e-mail a seus diretores. Recebi menos de cinco respostas e nenhum compromisso de agir em apoio a Assange. Muito já foi escrito sobre por que a extradição de Julian Assange para os Estados Unidos é tão perigosa, mas vale a pena repetir dois pontos.
A primeira é que os Estados Unidos pretendem processar e condenar Julian Assange sob a Lei de Espionagem por publicar provas de crimes de guerra dos EUA no Iraque. Isso criminalizaria a ação de publicar informações verdadeiras sobre as forças armadas mais expansivas do mundo, resultando em um precedente legal que permitiria ao governo dos EUA condenar qualquer publicação, desde a mídia independente até jornais com grande legado como o The New York Times. Tal precedente provavelmente será estendendido para além do domínio dos relatórios de política externa. Qualquer forma de denúncia contraditória pode ser punida em um mundo onde os tribunais dos EUA decidem que a publicação de informações verdadeiras constitui espionagem.
O segundo ponto que torna o caso de Assange tão perigoso é que ele não é cidadão do país que busca sua extradição (Estados Unidos) ou do país que supervisiona sua extradição (Reino Unido). Assange é australiano. O absurdo e as implicações internacionais de um país extraditando o cidadão de outro país para um terceiro país provavelmente silenciarão qualquer jornalista de qualquer parte do mundo que de outra forma pudesse relatar crimes e corrupção nos EUA. Essencialmente, o governo mais poderoso do mundo será capaz de suprimir o escrutínio e a responsabilidade da profissão dos jornalistas em qualquer lugar do mundo se Assange for extraditado, julgado e sentenciado com sucesso.
Como o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa e a possível extradição de Assange aproximam-se, é essencial que qualquer um que espere manter a liberdade de imprensa mundial apoie Julian Assange, com firmeza e voz. Nada menos do que a pressão em massa do público permitirá a liberdade de Assange e a garantia da liberdade de imprensa que está em jogo. É mais fácil do que nunca apoiar a campanha do que em qualquer momento desta última década. A maioria das principais organizações de direitos humanos e liberdade de imprensa manifestaram-se contra a extradição, incluindo a Human Rights Watch, Anistia Internacional, União Americana pelas Liberdades Civis, PEN Internacional e Comitê para a Proteção dos Jornalistas, bem como conselhos editoriais do The New York Times, The Guardian e muitas outras.
As agências de notícias que antes permaneciam quietas também estão começando a soar o alarme. A MSNBC, um veículo que geralmente alinha-se com o enquadramento da política externa dos EUA, permitiu que uma entrevista com a esposa de Julian, Stella Assange, fosse ao ar em seu serviço de streaming. Em seguida, a MSNBC promoveu a entrevista no Twitter para seus 4,6 milhões de seguidores. Essa ação por si só provavelmente está expondo o caso a inúmeras pessoas que, de outra forma, não questionariam a ameaça que isso representa e mostra que o impulso está crescendo para um novo ativismo em torno da libertação de Assange.
A nova geração de jornalistas pode trazer uma energia essencial à campanha pela liberdade de Assange. Minha esperança é que, à medida que o impulso comece a crescer nos Estados Unidos pela liberdade de Assange, jornalistas e escolas de jornalismo estabelecidos nos apoiem levando o caso de Assange a sério. Encorajo jovens jornalistas como eu e estudantes de jornalismo a tomarem a iniciativa, clamar pela liberdade de Assange e exigir que nossos mentores juntem-se a nós. Nosso futuro permanece em perigo enquanto Assange não estiver livre.
Sam Carliner
Gerente de mídia social do CODEPINK
Fonte: este post de Sam Carliner foi publicado originalmente no CodePink (clique aqui para ler o original em inglês)
Tradução: Alessandra Scangarelli Brites - Revista Intertelas
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